No dia 15 de setembro de 1998, chegava às lojas dos EUA o Rio PMP300, o dispositivo que abriu as portas do mercado de MP3 players no mundo. Na época, o tocador desenvolvido pela empresa Diamond Multimedia chamava atenção pelo tamanho (que era comparado a um baralho completo), por seu preço acessível e por trazer a proposta de ouvir arquivos de música sem ser em um computador – ou por meio de um CD, em um Discman.
O lançamento do modelo foi marcado por uma batalha judicial por parte das gravadoras, ainda reticentes com a popularização da nova mídia, e com a criação de um serviço de comércio de MP3, algo muito semelhante com o que o iTunes fez anos depois. Por essas e outras, o tocador da Diamond entrou para a lista dos 100 gadgets mais importantes de todos os tempos da revista Time. Confira a seguir algumas curiosidades dobre o MP3 player Rio PMP300, o "primeiro" do mundo.
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Foi mesmo o primeiro?
Na verdade, o primeiro tocador de MP3 da história foi o MPMan F10, da empresa sul-coreana SaeHan. O MPMan foi lançado na Coreia do Sul e no Japão em maio de 1998, quatro meses antes do Rio PMP300.
Apesar de ter feito algum barulho na feira CeBIT daquele ano, em Hannover, o MPMan F10 não teve o sucesso comercial que se esperava. Em parte por conta de seu preço: o modelo mais simples, com memória interna de 32 MB, custava cerca de US$ 400 (por volta de R$ 1,6 mil na conversão direta). A fim de comparação, o tocador da Diamond, que também tinha 32 MB, foi lançado a US$ 200 (cerca de R$ 810 na cotação atual).
Outro motivo é o fato de a SaeHan ser uma empresa pequena, que ainda estava engatinhando no mundo dos produtos eletrônicos para o grande público. Sem experiência para investir em marketing, suas vendas ficaram restritas. Além disso, com o lançamento do Rio PMP300, em setembro daquele ano, todas as atenções da mídia acabaram voltadas para o aparelho da Diamond, principalmente após as gravadoras tentarem banir sua venda.
Disputa judicial
Parte do sucesso do PMP300 pode ser atribuída à "publicidade gratuita" que veio com a ação da Recording Industry Association of America (RIAA) contra a Diamond. No dia 8 de outubro de 1998 – ou seja, menos de um mês após o lançamento do tocador MP3 –, a entidade que representa as gravadoras nos EUA entrou com um pedido de paralisação das vendas do gadget por supostamente ferir as leis de direitos autorais.
O congelamento durou até 26 de outubro daquele ano, quando a juíza Andrea Collins, do tribunal distrital da Califórnia, considerou a ação improcedente e exigiu o retorno do Rio PMP300 às lojas. A RIAA recorreu à corte de apelações dos EUA, onde teve o processo anulado em 1999.
A partir disso, as vendas do dispositivo atingiram um novo patamar, chegando a, aproximadamente, 200 mil unidades vendidas após o fim do processo. Assim, o Rio PMP300 acabou virando sinônimo de tocador de MP3 – ao menos até a chegada do primeiro iPod, em 2001.
Meia hora de música
Nos anos 2000, era comum encontrar MP3 players com 8 GB, 16 GB ou até 120 GB de memória interna para arquivos de música. Só que o Rio PMP300 era bem mais humilde: tinha apenas 32 MB de armazenamento interno. De acordo com matérias da época, essa capacidade era suficiente para cerca de 30 minutos de músicas com qualidade de 128 kbit/s ou de 60 minutos em qualidade inferior.
Caso fosse preciso aumentar sua capacidade, o Rio PMP300 ainda contava com uma entrada para SmartMedia, um cartão de memória precursor do cartão SD. Mais tarde, a empresa lançou uma versão com o dobro de memória, 64 MB, com preço de US$ 250, cerca de R$ 1 mil nos dias de hoje.
Sem USB? Sem problema
Se hoje o padrão USB está presente em todos os eletrônicos possíveis, em 1998 a regra era cada periférico ter seu próprio padrão. Como então o Rio PMP300 se conectava ao computador? Simples: por meio da porta paralela, usada antigamente para impressoras. Dentro do kit do tocador de MP3 havia um adaptador para a porta paralela e um cabo proprietário que era conectado ao gadget.
Um detalhe importante é que essa porta paralela tinha velocidade máxima de 2,5 MB/s. Em outras palavras, se tudo desse certo, era preciso esperar cerca de 12 minutos para conseguir encher o MP3 player.
O ‘Pai’ do iTunes
Em 1998, encontrar arquivos MP3 não era uma tarefa simples. O Napster, programa de troca de arquivos que mudou a maneira de consumir música digital, seria criado apenas em 1999. Por isso, o kit do Rio PMP300 vinha com um CD com mais de 150 arquivos de músicas gratuitas dos sites Good Noise e MP3.com.
No ano seguinte, a Diamond deu um passo além e lançou o RioPort, um serviço de venda de músicas digitais. A ideia foi abraçada pelas principais gravadoras do mundo, que passaram a vender faixas a US$ 0,99 por meio da plataforma.
Até que, em 2002, a marca RioPort acabou vendida para a Ecast, que viria a falir em 2012. Em meio a isso, a Apple lançou em 2003 a iTunes Store, oferecendo o mesmo serviço da RioPort e se tornando um dos negócios mais rentáveis da empresa de Steve Jobs até a ascensão dos serviços de streaming.
Inspiração para o iPod
A história oficial diz que o design dos primeiros iPods foram inspirados em um antigo aparelho de rádio da marca alemã Braun, mas é inegável que o tocador da Apple também guarda algumas semelhanças com o Rio PMP300, a exemplo do formato retangular e do controle circular. Uma explicação possível é que o design do Rio PMP300 já era bem aceito entre os consumidores, e não havia razões para fazer mudanças drásticas.
Por outro lado, a grande inovação da Apple foi a introdução do clickwheel, que permite navegar pelo menu apenas deslizando o dedo pelo controle. Graças a essa interface simples e intuitiva, o iPod conquistou o mercado e virou referência entre os MP3 players.
Gadget influente
Em 2010, a revista norte-americana Time listou os cem gadgets mais influentes de todos os tempos, contando a partir de 1923. Dentre os selecionados, ao lado de nomes marcantes como Game Boy, iPhone e Walkman, está o Rio PMP300.
De acordo com a revista, mesmo o tocador não tendo sido o primeiro a ser lançado no mundo, foi o primeiro a conseguir sucesso comercial. Também lembrou que o aparelho já trazia à época a função de deixar as músicas em modo aleatório, embora a tela LCD apenas mostrasse o número da faixa.
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