A expressão sadfishing (junção de "triste" e "pescaria", em inglês) é usada para descrever situações em que pessoas desabafam sobre problemas relacionados à saúde mental com o objetivo de atrair a atenção dos seguidores ou ganhar curtidas. A tática, que já foi usada por celebridades como a modelo norte-americana Kendall Jenner, tem se tornado cada vez mais comum nas redes sociais.
Na última terça-feira (1), um levantamento divulgado pela agência Digital Awareness UK (DAUK) chamou atenção para o fenômeno ao apontar que jovens acusados de praticar sadfishing são vítimas de bullying e ciberbullying. Segundo a DAUK, a popularização da tendência pode prejudicar a saúde mental de crianças e adolescentes que sofrem verdadeiramente com problemas do gênero. Saiba como identificar posts de sadfishing e entenda os desdobramentos dessa prática a seguir.
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O que é sadfishing?
As redes sociais sempre foram consideradas um espaço destinado unicamente à exibição de uma vida perfeita e feliz. No entanto, desde a tendência dos Fake Instagrams (ou Finstagram), perfis privados usados para postar fotos de momentos tristes ou mesmo constrangedores, outros tipos de conteúdo passaram a ganhar protagonismo na plataforma.
Cunhado pelo jornal britânico Metro News, o termo “sadfishing” dá nome à crescente tendência, liderada principalmente por celebridades, de expor sofrimentos e problemas pessoais na Internet para atrair likes e comentários. Ao contrário dos posts nos Finstagrams, porém, as publicações de sadfishing costumam apresentar uma versão “glamourizada” da tristeza.
No Instagram, a tendência se manifesta principalmente a partir de fotos tristes, mas esteticamente agradáveis. Filtros em preto e branco ou com tons frios adicionam uma beleza melancólica à imagem, que pode ser acompanhada por hashtags como #SelfCare e #MentalHealth.
Também é comum que o texto das publicações esconda detalhes da situação para despertar a curiosidade dos seguidores e induzi-los a enviar comentários ou mensagens privadas. Em alguns casos, o problema pode até mesmo ser apresentado maior do que realmente é. Em redes sociais menos visuais, como Facebook e Twitter, a tática se repete.
Sadfishing entre famosos
Em janeiro deste ano, um curto vídeo postado pela socialite norte-americana Kris Jenner, mãe da modelo Kendall Jenner, intrigou os seguidores da celebridade. No teaser, Kendall estava prestes a revelar uma experiência que parecia ser muito íntima e delicada.
Na legenda do post, a mãe da Kardashian escreveu: "Estou tão orgulhosa da minha querida @KendallJenner por ser tão corajosa e vulnerável. Ver você compartilhar sua história mais crua, a fim de causar um impacto positivo para muitas pessoas e ajudar a promover um diálogo positivo, é uma prova da incrível mulher que você se tornou".
O breve depoimento despertou a curiosidade do público: o que Kendall estava prestes a confessar? Talvez ela fosse desabafar sobre algum problema de saúde mental, como ansiedade ou depressão. No dia seguinte, a modelo revelou a história por trás do vídeo: ao final, tudo foi um pretexto para o lançamento de uma campanha publicitária em parceria com uma empresa de cosméticos antiacne.
O caso de Kendall Jenner é o exemplo perfeito de sadfishing, uma vez que ela usou uma história triste para "fisgar" a atenção dos seguidores. A tática apareceu outras vezes no decorrer da campanha estrelada pela modelo. Ao compartilhar seus problemas com acne para promover o produto, Kendall empregou um tom exageradamente emocionado nos textos.
Uma das últimas c
A maior parte das mensagens era de apoio e incentivo ao cantor, mas alguns usuários acusaram o canadense de acentuar seus problemas. "Acorde! Há pessoas por aí em situações 500 vezes piores que as suas", dizia um dos comentários.
Sadfishing ajuda a descredibilizar sofrimentos reais, diz estudo
Embora alguns possam exagerar ou mesmo falsear problemas para chamar a atenção de outros usuários ou mesmo ganhar novos seguidores, existem pessoas que sofrem, de fato, com distúrbios de saúde mental. Para esses grupos, a popularização da prática de sadfishing pode ser especialmente prejudicial.
Um estudo da agência Digital Awareness UK (DAUK) revelou que crianças e jovens genuinamente em busca de apoio online estão sendo ignorados ou mesmo atacados com comentários agressivos, o que poderia piorar sua condição mental. Após ouvir cerca de 50 mil estudantes de 11 a 16 anos, a DAUK percebeu que os jovens geralmente ficam decepcionados quando não obtêm o suporte de que precisam nas redes sociais.
"Muitas pessoas comentaram e curtiram meu post, mas alguns disseram, no dia seguinte, na escola, que eu estava fazendo 'sadfishing' por atenção. Compartilhar meus sentimentos online me fez sentir pior em alguns aspectos, mas apoiado em outros", contou um aluno entrevistado pelos pesquisadores.
Ainda segundo a pesquisa, aliciadores podem aproveitar desabafos sobre saúde mental para ganhar a confiança dos jovens e explorá-los posteriormente. Uma adolescente ouvida pela DAUK revelou que iniciou um relacionamento virtual após compartilhar suas experiências sobre depressão nas redes sociais e ser respondida por um usuário. Quando o parceiro começou a pressioná-la para enviar fotos íntimas, a jovem descobriu que ele era muito mais velho do que dizia ser e terminou a relação.
Portanto, é preciso ter cuidado quanto ao conteúdo exposto online, e ser cauteloso em relação a desconhecidos que se aproximam por meio de redes sociais. Pais e responsáveis devem acompanhar os posts de filhos para se atentar a riscos de bullying ou aproximação de aliciadores.
Via Metro, The Guardian e Telegraph
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