Pense em uma celebridade que disse algo controverso ou se envolveu em alguma polêmica — ela provavelmente foi sentenciada ao "cancelamento" pelo tribunal das redes sociais. Tradicionalmente usado para deixar de assinar um serviço ou desmarcar um compromisso, o verbo "cancelar" passou a ser empregue para boicotar pessoas. A chamada "cultura do cancelamento" foi tão marcante em 2019 que o dicionário australiano Macquarie a elegeu como palavra do ano.
Mas quais são as origens desse fenômeno? Que motivos levam alguém a ser cancelado? A cultura do cancelamento realmente funciona? A seguir, entenda a dinâmica do boicote a famosos na Internet e conheça alguns nomes que já foram condenados pelo tribunal das redes sociais.
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O que é a cultura do cancelamento?
A cultura do cancelamento diz respeito a atitudes dentro de uma comunidade que pedem ou provocam a interrupção do apoio a atores, políticos, músicos, influenciadores digitais ou qualquer outra figura pública, geralmente em resposta a algum tipo de postura considerada condenável, ofensiva ou preconceituosa.
De acordo com o dicionário Merriam-Webster, a definição do termo "cancelar" é "destruir a força, efetividade ou validade". Quando uma pessoa diz que está cancelando uma celebridade, é isso que ela está tentando fazer.
Nas palavras do dicionário australiano Macquarie, que elegeu a cultura do cancelamento como "palavra do ano", o termo captura um aspecto importante do estilo de vida de 2019: "uma atitude tão persuasiva que ganhou seu próprio nome e se tornou, para o bem ou para o mal, uma força poderosa”.
De onde vem a cultura do cancelamento?
Internacionalmente, a ideia de cancelar alguém tem origem no movimento #MeToo (#EuTambém, em português), campanha online que reuniu testemunhos de mulheres vítimas de crimes sexuais. Encabeçado por celebridades hollywoodianas, o movimento começou em 2017, após a série de denúncias contra o produtor Harvey Weinstein, acusado por dezenas de mulheres de abuso sexual e estupro.
A onda de relatos deu origem a um dos mais sérios cancelamentos nas redes sociais. Não a toa a expressão "Me Too" foi escolhida pelo dicionário Macquarie como a palavra do ano em 2018. "Embora o movimento tenha decolado em 2017 com a hashtag #MeToo, ele definitivamente manteve seu ímpeto e, em 2018, começou a espalhar suas asas linguísticas para além da hashtag e do nome do movimento, respondendo a uma necessidade óbvia no discurso que cerca essa convulsão social", explicou o comitê do dicionário.
No mesmo ano, uma reportagem doThe New York Times deu vazão ao fenômeno ao afirmar que "todo mundo estava sendo cancelado". Taylor Swift, Kanye West e Bill Gates foram apenas algumas das celebridades citadas no texto, que explicava a dinâmica por trás do boicote.
Famosos cancelados
A lista de famosos cancelados em 2019 é extensa. No Brasil, o tribunal das redes sociais já sentenciou nomes como Anitta, Neymar, Britto Jr. e MC Gui. Em seu Twitter, o usuário @jotagirotto fez uma lista com todas as personalidades canceladas, em processo de cancelamento e "incanceláveis". Ele também acrescentou figuras públicas que foram "revogadas", ou seja, conseguiram reverter o cancelamento, como o youtuber Felipe Neto, famoso por protagonizar polêmicas e disparar comentários ácidos.
Liderando a relação, Anitta já foi cancelada por inúmeras razões, principalmente por questões políticas. A cantora já foi a
Um dos casos mais recentes de cancelamento ocorreu com o também cantor MC Gui. Em outubro, o funkeiro paulistano postou, em seu Instagram Stories, um vídeo zombando da aparência de uma menina que estava fantasiada como uma personagem de um filme da Disney. A atitude foi imediatamente rechaçada pelos usuários, que acusaram o MC de praticar bullying. Ele tentou se desculpar, mas a resposta não convenceu: "Eu dei risada porque achei um pouco impressionante. A internet tá muito chata", disse o cantor.
No entanto, se engana quem pensa que apenas práticas como bullying, racismo, homofobia, machismo e apoio a candidatos de extrema-direita podem levar ao cancelamento de uma celebridade. Alguns casos podem soar bastante banais, como o da cantora norte-americana Taylor Swift, que viu a hashtag #TaylorSwiftIsCancelled (#TaylorSwiftEstáCancelada, em português) bombar por causa de uma briga antiga com o rapper Kanye West.
Aliás, nem o esposo de Kim Kardashian escapou dos cancelamentos em 2019. A reafirmação do seu apoio ao presidente norte-americano Donald Trump, em um momento em que muitos negros se sentem ofendidos pelos comentários do republicano, chocou os fãs do rapper. Para piorar a situação, Kanye ainda disse, durante uma live do site TMZ, que a escravidão "foi uma escolha".
A cultura do cancelamento realmente funciona?
Depende – tanto do famoso quanto da gravidade do caso. Enquanto MC Gui sofreu com o cancelamento de shows, os episódios envolvendo Anitta e Taylor Swift, por exemplo, mostram que nem sempre as tentativas de boicote promovidas na web abalam a carreira das celebridades. Ambas cantoras continuam lançando hits e ganhando prêmios por seu trabalho.
O mesmo não pode ser dito do ator Kevin Spacey, que acumula pelo menos cinco denúncias de assédio sexual. Desde que as polêmicas vieram à tona, o ex-astro da série House of Cards foi demitido pela Netflix e não se envolveu em nenhum projeto novo. Seu último filme foi "Billionaire Boy's Club", de 2018, filmado antes das revelações. Ele ainda foi removido digitalmente do longa "Todo o Dinheiro do Mundo".
Via CNN, Time, Merriam-Webster, Macquaire Dictionary (1 e 2), The NY Times
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