O lançamento do iPhone X, em dezembro último, trouxe a seguinte pergunta: vale a pena comprar um celular com preço na casa dos R$ 7 mil? Colocando aqui de maneira simples: não vale porque este valor é simplesmente indefensável. Ainda assim, muita gente quer saber sobre a experiência de usar o smartphone futurista da Apple. E é por isso que produzimos este review que conta como é a vida com o iPhone X.
Normalmente, eu inicio minhas análises com os detalhes do design e da empunhadura do produto – também conhecida como “pegada” popularmente. Desta vez, porém, faço diferente: começo o texto com o que é inédito no modelo X.
iPhone X: detalhes e curiosidades sobre o celular futurista da Apple
O iOS 11 presente neste telefone traz algumas peculiaridades que mudam a forma de controlar o dispositivo. O botão Home, como você deve ter percebido nas fotos e no vídeo acima, desapareceu. Não há mais onde apertar para rapidamente retornar à tela de aplicativos.
E então, como faz? Por gestos. Tudo no iOS do X é baseado na natural movimentação que fazemos com os dedos. Repare que o display ocupa praticamente toda a fronte do aparelho. Lá embaixo fica uma espécie de barra de rolagem que pode ser arrastada para cima ou para os lados.
Ao movê-la rapidamente em direção ao topo, o aplicativo em questão é minimizado e retorna à lista com todos os softwares instalados no telefone. A bela animação faz jus à capacidade de processamento do telefone, que agora ostenta um poderosíssimo chip de seis núcleos – o A11 Bionic é o mais potente de todos os tempos, de acordo com a fabricante, que adora abusar dos superlativos na hora de promover seus produtos.
Movimentar a barra de rolagem para os lados intercala entre os aplicativos abertos recentemente. Digamos que você estivesse com o Evernote aberto e na sequência entrou no Twitter. Ao fazer este gesto, dá para navegar de volta ao bloco de notas em questão de poucos instantes.
A Apple acertou em cheio ao dispensar o botão Home físico e apostar numa espécie de controle virtual, algo que outras empresas (olá, Samsung) fazem tem alguns anos. Só que a maçã foi além, aperfeiçoou a ideia e chegou a um resultado que é quase orgânico.
A propósito: ao arrastar a barra para cima, mas parando no meio do caminho, o sistema passa a exibir o cardápio com todos os apps vistos recentemente. É ali que o usuário fecha os programas na marra, apesar de a empresa jurar que isso é desnecessário na maioria dos casos.
Ao pegar o iPhone X pela primeira vez, o consumidor logo estranha o recorte na área superior da tela. Esteticamente questionável, o tal topete existe para abrigar a poderos
Pegue o dedo e o posicione sobre o chifre da direita. Agora arraste para baixo: a central de controle do telefone irá descortinar diante de seus olhos, com os botões para acionar o modo avião, Wi-Fi, Bluetooth, não perturbe, entre outras opções. Aperte em qualquer ponto da tela para dispensar esta página.
Agora o chifre esquerdo: ao descer com o dedo, surgem as notificações do telefone. Os mil áudios do WhatsApp, mensagens no Facebook Messenger e avisos de promoção da Cabify (sempre ela!) ficam por ali.
O iPhone X impõe curva de aprendizado para compreender o funcionamento dos gestos. Depois de alguns dias, porém, a maioria das pessoas terá se acostumado a esta nova realidade. Descanse em paz, botão Home. Nunca mais será necessário recorrer a gambiarras para quando você parar de funcionar.
O recorte no teto do telefone tem um motivo: a presença do sensor de reconhecimento facial. Pela primeira vez, a Apple adota a biometria que faz a leitura de 30 mil pontos do rosto do usuário a fim de desbloquear as funções do dispositivo.
O iPhone ficou mais esperto e seguro. Ele sabe quando você o está olhando, e só libera o acesso ao telefone quando reconhece a sua presença. A experiência não poderia ser melhor: na maior parte do tempo, a tecnologia batizada de Face ID rapidamente autoriza o uso do smartphone. Ela funciona mesmo no escuro ou quando o usuário acrescenta adereços, deixa a barba crescer ou usa óculos (de grau ou de sol).
Vale a ressalva, no entanto, de que o Face ID pode patinar caso o dono do telefone tenha um irmão gêmeo. Se você tem um clone por aí, talvez seja melhor habilitar o desbloqueio por PIN (o código numérico).
Face ID, o reconhecimento facial
A privacidade também sobe um degrau por causa do Face ID. O reconhecimento facial sabe quando você está olhando de volta, e só exibe as notificações se ocorrer o contato visual. Sabe quando você deixa o celular em cima da mesa e qualquer pessoa que passar pode ver o conteúdo dos alertas? No iPhone X isso não acontece.
Importante dizer: dá para desativar o recurso e sempre mostrar o conteúdo das notificações, embora eu não veja motivo para tal.
O iPhone X tem tela de 5,8 polegadas em formato 18:9. Ela é mais alongada do que o normal, tal qual virou moda entre os celulares mais poderosos do momento. Os cantos são arredondados, também seguindo uma tendência da indústria – não confunda com vidro curvado, algo que só a Samsung oferece.
O resultado do novo desenho industrial é um conforto acima da média ao segurar o telefone. As bordas mínimas e a tela ocupando toda a frente também fazem com que o iPhone X seja uma simples janela para as informações que estão ali dentro.
O topete cria dificuldades para ver vídeos. Normalmente o usuário terá que escolher entre assistir no formato original, com barras pretas nas laterais, o que sempre dá a impressão de que está desperdiçando tela, ou no modo zoom, que aproxima a imagem para fazê-la caber no display, o que também faz com que parte dos pixels fique apagada na área do recorte.
A tela de 5,8 polegadas
Desta vez com painel em OLED, o display do iPhone X está mais brilhante do que nunca. As cores são muita vivas e fiéis ao que encontramos na natureza. Assistir a vídeos da Netflix neste telefone é um deleite.
Para completar, a companhia continua na sua investida em áudio estéreo. São dois alto-falantes em pontos distintos produzindo um som mais encorpado do que em outros telefones no mercado (estou falando de vocês, Galaxy S8 e Galaxy Note 8; faço a crítica aos sul-coreanos porque representantes da Samsung já me disseram que o áudio estéreo em um smartphone é desnecessário, o que é uma bobagem). Ponto para a maçã.
A câmera principal de 12 megapixels produz fotos espetaculares. Uma vez que estamos falando de um conjunto duplo de lente/sensor, o iPhone X oficialmente conta com uma câmera teleobjetiva e uma câmera grande angular. Ambas desempenham bem seu papel, com registro de imagens em ambientes claros e também em situações de luz baixa.
O destaque mesmo vai para o modo retrato, que se popularizou entre os usuários da Apple por causa dos modelos com Plus no nome. Aquele efeito de destacar o personagem da foto, enquanto fundo fica desfocado, marca presença e está ainda mais preciso.
Já os vídeos gravados em resolução 4K capturam com perfeição os tons e as cores. Desta vez com direito à estabilização dupla de imagens, para deixar no passado aquelas filmagens tremidas.
Câmera
Falar bem da câmera traseira do iPhone é chover no molhado. A principal novidade está na câmera frontal, agora capaz também de produzir retratos. As selfies em 7 megapixels também contam com o efeito de cenário desfocado. Para isso, a companhia utiliza o mesmo sensor de profundidade que funciona no Face ID.
Os efeitos de iluminação digital permitem regular a intensidade de luz que incide sobre o rosto. Alguns deles costumam tornar as fotos mais bonitas, sem deixar aquela aparência de imagem retocada com Photoshop. Ou seja, há benefício real na compra do dispositivo.
Não dá para dizer o mesmo dos recursos que se propõem a apagar virtualmente o cenário. Os filtros chamados de “Luz de Palco” e “Luz de Palco Mono” falham na maior parte do tempo, produzindo resultados escabrosos. A Apple deveria dar um sumiço nessas opções até que o software esteja mais maduro.
Desempenho
O hardware do iPhone X é incomparável. O processador é veloz e o telefone também está bem nutrido de memória RAM. Para completar, o armazenamento começa em 64 GB, o que é ótimo para muitos dos cenários que vejo ao conversar com consumidores. Precisa de mais? Também tem memória interna de 256 GB, o que é uma extravagância – às vezes necessária.
Pena que o sistema nativo do modelo X esteja tão capenga. Quem acompanhou a rodada de atualizações de software que a Apple promoveu às vésperas do lançamento dos iPhones 8, 8 Plus e X sabe do que eu estou falando: o iOS 11 apresenta uma série de bugs. Às vezes o teclado demora para reconhecer as teclas que foram acionadas. Em outras vezes, girar o corpo do telefone não faz com que a imagem em si também acompanhe o movimento.
Sem causar surpresa, as primeiras informações de bastidores são de que o iOS 12 terá foco em estabilidade e desempenho. Os engenheiros e cientistas da Apple vão colocar esforços naquilo que costumava ser a marca registrada da fabricante: um sistema com menos falhas e que rodava redondo, o que fez dele o principal concorrente do Android.
Bateria
Também não adianta nada oferecer um sem número de especificações técnicas se o celular não acompanha o usuário até o fim do dia. Por isso mesmo, o teste de bateria que fizemos determinou que o iPhone X fica longe da tomada por 13 horas e 30 minutos. Mais do que um dia regular de trabalho, ainda mais quando consideramos o tipo de uso, com reprodução de música online, chamadas telefônicas e frenética troca de mensagens no Telegram.
Claro que existem smartphones cujo propósito maior é autonomia de bateria. Não é o caso do iPhone X. Trocando em miúdos, dá para dizer que o aparelho entrega um bom mix de desempenho, estética e eficiência energética.
Vale a pena comprar o iPhone X? Eis o resumo da ópera
Você se lembra que eu disse, no início da análise, que não vale a pena comprá-lo no Brasil? Isso tem um motivo: embora os produtos da Apple tradicionalmente não sejam para qualquer bolso, o iPhone X por R$ 7 mil parece não caber em praticamente bolso nenhum. A fabricante precisa voltar à realidade se quiser competir com o Galaxy Note 8 – lembrando que eu mesmo considerei o produto excelente, porém ainda atrás do Galaxy S8 quando o assunto é custo-benefício.
Se ainda assim você caiu de amores pelo modelo futurista e com topete, pode ser uma boa pedida buscar desconto na sua operadora de telefonia.
Os viajantes têm mais sorte nesta história: pelo elevado preço de US$ 1 mil dólares, faz sentido comprar o iPhone X pelo equivalente a R$ 3,2 mil nos Estados Unidos. Lembre também e comprar os AirPods, fones de ouvido sem fio da Apple, para garantir uma vida completamente wireless. Eles custam US$ 159 por lá. Daria pouco mais de R$ 500 pelo câmbio do dia, bem menos do que o valor tabelado de R$ 1,4 mil.
Numa quase nota de rodapé, lembro que o smartphone oferece resistência à água. Esta bem-vinda característica é ótima para eventuais acidentes (só não pode lavá-lo com sabonete). O design com vidro na parte de trás também possibilita o carregamento wireless, mas ele é vagaroso se comparado com a quase caquética recarga usando fios.
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