A SK Telecom T1, considerada a melhor equipe do cenário competivivo de League of Legends da história, enfrenta um momento crítico de incertezas e turbulências. Lee "Faker" Sang-hyeok e seus companheiros perderam a final do último Mundial, não ganham um título desde o Mid-Season Invitational disputado no Brasil e acumulam nove derrotas em 16 partidas disputadas no campeonato nacional (LCK). Campeões de praticamente tudo nos últimos quatro anos, o declínio da SKT surpreende. Alguns fatores pontuais, no entanto, explicam a queda dessa dinastia.

Dança das cadeiras

Antes de analisarmos a atual conjuntura, vamos voltar um pouquinho ao passado. É bem verdade que a SK Telecom T1 sempre soube lidar com mudanças no elenco. Após a conquista do Mundial de 2013, o topo Impact, o atirador Chae "Piglet" Gwang-jin e o suporte Lee "PoohManDu" Jeong-hyeon deram lugar a Jang "MaRin" Gyeong-hwan, Bae "Bang" Jun-sik e Lee "Wolf" Jae-wan respectivamente. A nova lineup se sagraria campeã novamente em 2015.

O cenário de trocas continuou a se repetir depois do bicampeonato. O topo MaRin, eleito o melhor jogador do Mundial de 2015, não quis renovar com a antiga equipe e se juntou aos chineses da LGD Gaming. Lee "Duke" Ho-seong foi contratado para o seu lugar. Na selva, Bae "Bengi" Seong-woong perdeu espaço com a chegada de Kang "Blank" Sun-gu e acabou ficando na reserva desde então. Resultado? SKT tricampeã em 2016.

A equipe comandada pelo lendário técnico Kim "kkOma" Jeong-gyun, considerado por muitos o maior treinador da história do League of Legends, sempre apresentou um poder de reconstituição muito grande. Mesmo com a saída de peças importantes e a entrada de caras novas, o time sul-coreano manteve o padrão de jogo, a força no cenário nacional e a hegemonia nos torneios globais. Até 2017.

A campanha do melhor time de League of Legends do planeta não foi tão sólida na LCK 2017. Faker e seus companheiros terminaram a temporada regular do segundo split em quarto lugar. Nos playoffs, a SKT foi derrotada pela Longzhu Gaming na grande final: três a um para os conterrâneos. Em tese, os atuais campeões do Mundial chegariam um pouco mais desacreditados do que o de costume para o torneio mais importante de League of Legends. Todavia, como a equipe sul-coreana é conhecida por crescer em partidas de mata mata de grandes competições, essa desconfiança foi logo descartada.

O fim de um império

Sem maiores problemas, a SK Telecom T1 se classificou em primeiro lugar na fase de grupos do Mundial de 2017 em um grupo relativamente difícil, que contava com Cloud9, ahq e EDward Gaming. Já o caminho para a final foi bastante conturbado. Os sul-coreanos venceram – e com sufoco – a surpreendente Misfits Gaming e os chineses da Royal Never Give Up, ambos pelo placar apertado de três a dois.

Se as pessoas já começavam a desconfiar que o reinado da equipe treinada por kkOma estava começando a ruir, a descrença se confirmou na final. De forma inacreditável, Heo "Huni" Seung-hoon, Han "Peanut" Wang-ho, Faker, Bae "Bang" Jun-sik e Lee "Wolf" Jae-wan foram massacrados pela Samsung Galaxy. Os compatriotas venceram por três a zero e conseguiram, finalmente, desbancar os únicos tricampeões da história do torneio.

O poder de reconstrução da SKT falhou desta vez. Antes da disputa do Mundial, mais uma mudança na rota do topo: Huni havia chegado para substituir Duke. Na selva, Peanut conquistou a vaga de titular e Blank, novamente, foi deixado para escanteio. Seja por questões de metagame, estilo individual ou sintonia coletiva, a equipe não conseguiu impor aquele estilo de jogo que sempre impressionou qualquer fã do game. Pelo contrário. Erros de posicionamento, tomadas de decisão e draft custaram – e caro – o tetracampeonato.

De campeã a penúltimo lugar na tabela

Os reflexos da grande derrota no mundial se traduziram, mais uma vez, em mudanças na lineup. A SKT chegou completamente reformulada para a disputa da LCK 2018. A diretoria do clube não quis renovar os contratos de Peanut e Huni. Park "Untara" Ui-jin e Park "Thal" Kwon-hyuk foram contratados para a rota do topo. O jovem P

... ark "Blossom" Beom-chan chegou para disputar a posição de caçador com Blank. O suporte Lee "Effort" Sang-ho também foi contratado para fazer sombra a Wolf.

kkOma se viu mais uma vez obrigado a recomeçar. O comandante precisava recuperar a confiança dos atletas, adaptar as novas contratações ao padrão de jogo da equipe e o mais importante: fazer com que a SKT fosse temida novamente. A campanha inicial na liga nacional, entretanto, foi um desastre. Os sul-coreanos perderam cinco das seis primeiras partidas da LCK, e chegaram, inclusive, a ocupar a penúltima colocação da tabela. Algo inimaginável para a grandeza de um time tão poderoso como a SK Telecom T1.

Em uma tentativa desesperada de mudar a equipe e concertar erros primários, kkOma" alternou entre Untara e Thal na rota do topo e até mesmo improvisou Wolf, suporte de origem, como caçador. A situação finalmente mudou com a entrada de Blossom na selva. Com um estilo de jogo mais agressivo e querendo mostrar trabalho, o jovem atleta conseguiu dar outra cara à SKT. E parece ter dado certo, já que os sul-coreanos conseguiram acumular seis vitórias nas últimas dez partidas disputadas.

A equipe está atualmente em sexto lugar na tabela, faltando apenas duas rodadas para o fim da temporada regular. A posição mediana na classificação, entretanto, ainda é muito pouco para quem já conquistou o mundial por três vezes, o MSI em duas oportunidades e o torneio nacional em seis ocasiões. No entanto, os erros e os problemas táticos ainda estão lá.

O que aconteceu, então?

Dinastias têm data de validade em qualquer esporte do mundo. Entre 1970 e 1973, os holandeses do Ajax se sagraram tricampeões da UEFA Champions League jogando um futebol invejável. Entre 1990 e 1993, Michael Jordan conquistou três títulos de NBA com o Chicago Bulls. Entre 2013 e 2016, a SK Telecom T1 foi tricampeã mundial de League of Legends. É praticamente impossível se manter no topo das competições por toda a história.

Pode-se encarar o declínio da SKT como parte do ciclo natural competitivo. O estilo de jogo da SKT que impressionou o mundo agora já não é segredo. Ainda mais em um game tão volátil como o League of Legends, sempre propício a atualizações, estilos de metagame e surgimento de novos talentos.

A manutenção de certos atletas na equipe da SKT também é um ponto. Ao entrar no lugar do experiente caçador Blank, que está na equipe desde 2015, Blossom mudou drasticamente as rotações dentro do jogo com uma nova mentalidade e um estilo individual peculiar. Paradoxalmente, tantas alterações no elenco, desde a conquista do terceiro mundial podem ter atrapalhado a obtenção de uma regularidade. Conferir o equilíbrio perfeito ao elenco a partir de jovens promessas e jogadores experientes ainda é um desafio para o técnico kkOma.

O fim da hegemonia da SKT abriu espaço para o surgimento de outras boas equipes de League of Legends e mais competitividade nos torneios internacionais. Isso não apaga, no entanto, toda a importância da organização sul-coreana na história do jogo e do esporte eletrônico como um todo. A SK Telecom T1 inspirou gerações, foi a grande equipe a ser batida durante muito tempo e impressionou milhões de fãs ao redor do planeta.

A organização pode ficar de fora da segunda fase da LCK, já que apenas os cinco melhores colocados se classificam para a escalada (formato semelhante ao do CBLoL 2018).



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