Mafia: Definitive Edition chegou ao PlayStation 4 (PS4), Xbox One e PC no dia 25 de setembro de 2020 como um ambicioso remake de Mafia, título original de 2002 (também conhecido como “Mafia 1” em virtude dos jogos sequentes na franquia). Com gráficos completamente refeitos, ajustes na história e mais cenas, Mafia tem a dura tarefa de encantar uma nova geração de jogadores, apelando para os avanços da tecnologia, tudo sem estragar o legado do clássico original. Mafia: Definitive Edition está disponível para comprar por R$ 149 nas lojas de Sony e Microsoft, por R$ 229 na Steam e Epic Games Store. Veja, a seguir, o review completo de Mafia: Definitive Edition.
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Em linhas gerais, Mafia: Definitive Edition se sai bem sucedido da tarefa, embora alguns pontos, como travamentos nos consoles (testamos o jogo no PS4) e performance inconsistente, precisem ser observados. Com apresentação gráfica impecável, jogabilidade que resgata um pouco o tempo de jogos com nível real de desafio e uma história que se mantém realista e bem contada, Mafia: Definitive Edition é uma ótima opção para quem gosta do gênero, conhece a série, ou simplesmente deseja matar as saudades de Tommy Angelo e sua história.
História
O título se passa em um mundo de crise e desemprego provocados pela quebra da bolsa em 1929, onde o crime organizado florescia na América do Norte em virtude do fato de que produção, comércio e consumo de bebidas alcóolicas era ilegal. Tommy Angelo é um taxista que acaba atraído pela vida de aventura e dinheiro fácil da máfia italiana.
O personagem é recrutado pela família Salieri, uma das líderes da máfia italiana na fictícia cidade de Lost Haven (inspirada na cidade de Chicago da década de 1930). Angelo é o protagonista de uma história de máfia que consegue ser séria sem cair na caricatura de tentar repetir todos os filmes sobre mafiosos que você já assistiu.
Isso não quer dizer que o jogo não caracterize alguns dos traços comuns dessas narrativas. Como mafioso, você terá de extorquir dinheiro de comerciantes da vizinhança, perseguir e derrubar rivais, se infiltrar no mundo político e traficar garrafas de uísque para cima e para baixo. A narrativa é progressiva e vai dos afazeres simples aos crimes chocantes de forma natural, e em ritmo ponderado.
No meio do tiroteio, Mafia se destaca ao procurar contar uma história de um sujeito normal, atraído pela vida do crime, mas que se encontra em conflito com os rumos da “famiglia”, com a matança desenfreada e o preço das suas escolhas.
Mafia, em 2002, havia ganho status de clássico por conta da narrativa madura e bem equilibrada que permanece na revisão de 2020, inclusive aprimorada pela tecnologia que oferece novas cenas que dão mais contexto às situações, motivação dos personagens, atuações melhores do elenco e uma construção mais coesa se comparada à forma mais rústica pela qual o jogo original conta a vida de Tommy Angelo.
Gameplay
Mafia: Definitive Edition é um jogo de tiro e ação em terceira pessoa que oferece as mecânicas de cobertura e tiro universais no gênero. A ressalva fica por conta da variedade de armamentos bem pequena e relativa imprecisão do sistema, muito causada pela intersecção entre inteligência artificial abaixo da média dos inimigos e sistemas de tiro e cobertura que dão a impressão de um jogo arcade de mais de 10 anos. Falta impacto às armas, os inimigos não demonstram nenhuma estratégia e são esponjas de balas.
Há também a opção de combate corporal ou com armas brancas que, no entanto, parece ainda menos avançado do que o sistema presente em Mafia 3. Animações e movimentos de Tommy Angelo não parecem naturais e a pouca variedade de golpe
Um ponto que vale o registro, no entanto, é a oferta do modo “clássico” de dificuldade que visa emular um pouco a dificuldade irritante do jogo original. Aqui, inimigos são mais agressivos, policiais são mais vigilantes, há menos vida, recarregar a arma antes de zerar o pente representa perder balas e a dirigibilidade dos carros é muito mais granular e detalhada. Isso torna a famosa missão da corrida – um ícone presente em boa parte das listas de fases mais difíceis de todos os tempos desde 2002 – um grande desafio.
Embora ofereça uma cidade extremamente densa e com grande riqueza de detalhes, Mafia não pode ser categorizado como um mundo aberto. O jogo tem uma estrutura linear, que encadeia missão a missão em uma ordem pré-definida, sem dar ao jogador a chance de percorrer o mapa livremente, escolher um ícone e iniciar uma nova fase na hora e ordem que quiser. É possível vagar a esmo pela cidade no meio do decorrer das missões ou pelo modo Direção Livre, que é completamente avulso à história e oferece pequenas missões simples.
Crise de identidade
Uma cidade que, tecnicamente, é um mundo aberto em um jogo que não é um mundo aberto soa como uma crise de identidade. Mas a verdade é que esse design é uma herança direta do jogo original em um tempo em que o formato mundo aberto estava sendo descoberto pela indústria. GTA 3 tinha um ano de idade quando Mafia surgiu como um “GTA mais sério”.
Uma vantagem da abordagem é que a cidade fica parecendo muito maior do que é. Como você a percorre nas rotas pré-definidas das missões, acaba não tendo tanta chance de vagar pelas ruas e bairros de Lost Haven à exaustão, como faria em um mundo aberto sempre livre para você. Outro ponto forte é a ausência da tonelada de ícones espalhados pelo mapa para sinalizar atividades paralelas, missões não obrigatórias, etc.
Gráficos caprichados
Isso nos leva à necessidade de reconhecer a qualidade da apresentação gráfica de Mafia: Definitive Edition. Além do capricho na direção de arte e na riqueza de detalhes, o remake promove uma revolução sobre as memórias de quem é fã do jogo original de 2002. Lost Haven salta aos olhos como uma cidade densa, complexa e variada.
Dois aspectos relacionados aos gráficos merecem um destaque especial. O primeiro deles é o sistema de iluminação que os desenvolvedores da Hangar13 usaram, e que lembra bastante Mafia 3. O comportamento do sistema é bastante realista e empresta ao jogo um jeitão de filme, especialmente em situações com áreas de sombra.
Outro bom exemplo da técnica se faz presente em noites de chuva forte na cidade de Lost Haven. A maneira como a luz se espalha pelo cenário e incide sobre a água da chuva caindo do céu, ou nas poças e no asfalto molhado, dão uma atmosfera de grande realismo à Mafia e fazem o mundo do jogo parecer um lugar real, com profundidade. O resultado é tão bom que um modo fotográfico dedicado até faz falta.
A ressalva no aspecto técnico do jogo são alguns bugs e travamentos que encontramos na edição para PlayStation 4 do título, e que parecem ser reprodutíveis na versão para Xbox One. Outro detalhe – em menor evidência, mas ainda assim presente o suficiente para ser notado – são flutuações na taxa de quadros por segundo (FPS) em algumas situações específicas ao longo do gameplay, algo que sugere a possibilidade de correção por meio de atualizações.
Conclusão
A Hangar13 se deu à ingrata tarefa de modernizar um clássico e foi bem sucedida na missão. A revisão de Mafia para Mafia: Definitive Edition melhora a apresentação da história, traz gráficos impressionantes e jogabilidade que, se por um lado não tem nada de inovador, por outro não faz feio. Isso porque conseguiu amarrar uma narrativa com traços de filme épico em que os personagens são originais e o desfecho do conto de família, lealdade, ganância e traição é surpreendente na mesma medida que previsível, pois nenhum dos filmes termina bem.
Para quem não teve a oportunidade de experimentar o jogo original, vale a pena encarar Mafia: Definitive Edition. Vale considerar que aspectos de sua estrutura refletem jogos de 18 anos: tiro e combate são engessados e Lost Haven não é propriamente um mundo aberto. Porém, um hub e cenário de fundo para algo que Mafia passa o tempo todo reforçando: aqui, o que importa é a história de Tommy Angelo e da família Salieri nos anos 1930.
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