Aplicativos para iPhone e iPad existem aos milhares. Mas, no WWDC 2016, maior evento da Apple para desenvolvedores, é possível conhecer um pouco do que acontece por trás das telas. É difícil fazer um app? Como eles foram criados? Quem pode ajudar? Em San Francisco, o TechTudo teve a chance de conversar com alguns estudantes brasileiros cujos apps foram reconhecidos pela Apple, seja pelo caráter inovador, seja pela premissa básica de ajudar a fazer um mundo melhor.
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Diapet
O Diapet funciona mais ou menos como um “tamagótchi”: o bichinho virtual é um simpático dragãozinho que tem a diabetes. Assim, as crianças diagnosticadas aprendem a lidar com a doença cuidando do Floppy. Medir insulina, horário de alimentação, medo de agulhas... Tudo está ali.
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“Quisemos trabalhar não com ideia de 'estou com diabetes, que saco!' mas com diversão e magia”, explica Beatriz Magalhães, que descobriu ser diabética aos 13 anos. “O objetivo é cuidar do dragão, que não sabe se cuidar sozinho. Ele precisa de você”, completa Giancarlo Cavalcante, que faz dupla com Beatriz.
A jovem conta que, para criar o app, todos da equipe precisaram ter uma “semana do diabético”: medir insulina, controlar alimentação... Tudo isso em um ambiente colorido, bonito, que faz com que crianças e pais se sintam à vontade para lidar com a doença.
Crianças de seis a 12 anos são o público alvo inicial do app. Porém, pais e médicos também podem brincar com o Floppy. “Não queremos substituir ninguém. Nosso objetivo é entrar nessa comunicação, ajudar a interface. Dizer que está tudo bem”. O Diapets ainda não está disponível na App Store – só será publicado em novembro. Mas já está em testes em hospitais pelo Brasil.
Sleepy walker
Imagine ensinar programação para crianças. E imagine que isso pode ser feito com um simples jogo que roda em iPhones, iPads e AppleTV. Esse é o objetivo do Sleepwalker, um app criado nas horas vagas, por quatro jovens do Rio Grande do Sul: Nicolas Pereira, Camilla Schmidt, Gabriel Freitas e Bárbara Judies.
“O personagem, Marty, recebe suas instruções. E a ideia é que, conforme você for jogando, associe comandos do game com conceitos reais de programação”, explica Camilla Schmidt. “Conforme você vai passando, vamos introduzindo conceitos mais complexos”, completa Bárbara Kudiess.
A ideia nasceu do interesse comum do grupo por programação. “A lógica, a questão da sequencialidade, o algoritmo, a questão do 'faça isso se isso’, tudo isso pode ser aprendido pelas crianças. Nós tínhamos essa facilidade, e agora queremos que mais jovens tenham também”, explica Gabriel Freitas.
O grupo publicou uma versão simples do Sleepy Walker em 2015, e acabou reescrevendo tudo nas férias. E, para quem pensa que programar é difícil, bom, o time garante que não e que, surpreendentemente, é a parte mais fácil. "Quando fomos escrever a versão para AppleTV, pensamos no jogo por semanas. E, em apenas uma, preparamos o app”, diz Nicolas Pereira.
E quando perguntados sobre o por que de ser importante que as crianças aprendam a programar, a resposta vem quase em uníssono: “Se você pode programar, você pode fazer tudo”, diz Camilla. “Você pode fazer o que quiser. É um enorme poder”, diz Bárbara.
Fade It
O Fade It é um aplicativo criado por dois jovens cariocas para estimular o envolvimento das pessoas com causas sociais. O usuário pode postar fotos, no melhor estilo Instagram, mas aplicar filtros, mais ou menos como no Snapchat. E, assim, identificar-se com ONGs, movimentos ou até eventos especiais.
Eu, por exemplo, tenho uma causa, que é democratizar a codificação para mulheres – já que nós somos minoria. Então, criamos o ‘Tutoras’, uma causa para ajudar as mulheres tirar dúvidas sobre codificação”, diz Carolina Mandia, uma das desenvolvedoras do Fade It.
Gustavo Severo, dupla de Mandia, explica ainda que, com o Fade It, é possível identificar-se com causas por área, como as Olimpíadas do Rio, por exemplo. “Nossa ideia é usar os filtros comemorativos e botar um valor nele, e estamos conseguindo avançar nesses sentido. Conseguimos um bom número de downloads, no mundo inteiro, além de parceria com muitas ONGs”, explica.
O app tem no seu desenvolvimento o ponto forte. Completamente acessível, ele tem todo suporte para deficientes visuais ou auditivos. E, como foi criado na CloudKit da Apple, a solução permite ações rápidas, sem a necessidade de atualização por parte do usuário. “Por exemplo, tivemos o ataque agora em Orlando e queríamos convocar os usuários que estivessem próximo ao local para doar sangue. Normalmente, teríamos que pedir que todos fizessem update do app. Mas como estamos na CloudKit, bastou atualizarmos lá que todos já receberam o filtro automaticamente. Conseguimos alcançar 2 mil pessoas na região. Podemos ajudar as coisas a ficarem melhores”, explica Severo.
Bit Journey
E o mundo dos games também está representado no WWDC 2016 pelos jovens brasileiros. No melhor estilo games 16bit e 8bit, o visual retrô de Bit Journey faz sucesso mundo afora, sobretudo entre os aficcionados por ícones como Metal Slug. "Queríamos que um jogador pudesse fazer o que quisesse no jogo, em um mundo infinito. E fazer isso com estilo 2D, pixelart. Assim, o jogador poderia se divertir e ter uma experiência que nunca teve, na palma da mão”, explica Marcos Moraes, criador do jogo.
Incorporando um arqueiro, uma ninja ou um soldado, o objetivo do jogo é, claro, derrotar o máximo de inimigos possível. E permanecer vivo. Até aí, tudo bem. Mas o diferencial do Bit Journey é a jogabilidade e a beleza. É praticamente impossível não ficar viciado no game.
O Bit Journey foi destaque em 123 países quando foi lançado, no meio de 2015”, explica Moraes, que ainda surpreende ao explicar que não, não é coisa do outro mundo fazer um game bacana como o Bit Journey. “Levamos três meses para fazer tudo, em uma equipe de cinco pessoas”.E, só para constar: o Bit Journey segue gratuito na App Store.
Talkative
Criado a partir da paixão de Juliana Salgado, uma paulistana de 22 anos, o Talkative é um app de comunicação assistiva, originalmente pensado para pessoas afásicas. “Ou seja, eles pensam uma coisa, mas comunicam outra completamente diferente”, explica Juliana, que é analista de sistemas. “Trabalhamos em hospitais, e resolvemos fazer uma ferramenta de comunicação assistiva de forma mais eficiente”, diz.
O Talkative acabou surpreendendo seus criadores e atingiu um público ainda maior, na verdade, o potencial do app ainda está sendo descoberto. "Ainda estamos descobrindo novas formas de usar nosso aplicativo. Coisas que mesmo nós não imaginávamos – como pacientes que usaram drogas, como o crack, por muito tempo, ou portadoras de Esclerose. Nós realmente não esperávamos... Nós pensávamos em melhorar a vida das pessoas com afasia. Mas a gente não sabe, hoje até onde podemos chegar”, explica a desenvolvedora.
Funcionando basicamente com uma prancheta, inspirada na linguagem universal chamada de PCF usada por fonoaudiólogos para ajudar pacientes com dificuldade de comunicação , o Talkative responde a comandos do paciente. Apertando botões, é possível montar e ouvir frases.
Também temos a parte de gestos faciais. Mas temos pacientes que sequer conseguem tocar. Aliás, os botões são bem grandes exatamente por isso. Mas alguns pacientes usam um dedo, dois dedos, mas outros, são o caso do gesto facial. A gente adapta a piscar o olho: direito e esquerdo, e sorrir. Você pode aumentar a velocidade da piscadela”, explica, orgulhosa, Juliana.
Como não colhe dados, o Talkative ainda está com o modelo de negócio em avaliação. Pensado para ser apenas uma plataforma de comunicação, usada por médicos e pacientes, parece ser difícil calcular quanto vale o esforço de criação do time. "Temos alguns aplicativos no Mercado hoje que são muito caros. E são simples: algumas linhas, frases, mas são um absurdo de caros no Brasil. As pessoas já têm que pagar tratamento, tantas coisas. É até um dos motivos pelos quais deixamos o app gratuito”.
A postura de Juliana, aliás, é praticamente a mesma de seus colegas brasileiros. E, provavelmente, é a mesma de milhares de desenvolvedores mundo afora. Ganhar dinheiro, sim. Mas com um propósito, que é o de mudar o mundo aos poucos.
E cada vez mais, a Apple – e as outras grandes empresas de tecnologia – entendem que soluções, sejam elas aplicativos ou plataformas web, são vitais para a sobrevivência do negócio. Como diz Beatriz Magalhães, do app Diapets, a parte técnica da criação do app é a parte mais fácil.
“Sair da sua realidade e tentar se colocar na do usuário é a parte mais difícil da criação do app. Essa viagem emocional é muito mais complexa que a parte técnica”, diz Beatriz Magalhães. Afinal, a grande lição do WWDC 2016 é que, quanto mais pessoas puderem programar, criar apps, mais problemas no mundo serão resolvidos.
*O jornalista viajou a convite da Apple.
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