Quanto tempo você gasta assistindo aos vídeos sugeridos pelo YouTube? Essa pergunta está no centro de uma importante discussão que envolve a plataforma. Isso porque o ex-funcionário do Google, Guillaume Chaslot, que trabalhava com o algoritmo responsável por indicar conteúdos para os usuários, fez uma série de denúncias durante sua palestra na DisinfoLab Conference deste ano.

Chaslot defende que a recomendação dos vídeos é falha e, muitas vezes, não sugere conteúdos relevantes. Em entrevista ao site The Next Web, porém, ele afirmou que este não seria o principal problema: o especialista acusa o YouTube de usar a tecnologia de Inteligência Artificial para deixar os usuários "viciados" na plataforma e fazer com que "percam tempo".

Em sua palestra na DisinfoLab Conference, Chaslot afirmou que os usuários acabam recebendo, por indicação do próprio YouTube, recomendações sensacionalistas. Apesar de pontuar que, na maioria das vezes, os vídeos são inofensivos, o especialista sustenta que alguns podem ser bastante problemáticos e perturbadores. Pensando em um meio para acabar com o 'vício' desencadeado pelo YouTube, Chaslot criou uma plataforma alternativa, o projeto AlgoTransparency, que promete uma maior transparência ao usuário.

Procurado pelo TechTudo, o YouTube revelou que AlgoTransparency é uma plataforma que foi criada fora do YouTube e que ela não é capaz de apontar como o algoritmo de recomendação de vídeos da rede funciona. Além disso, a empresa afirma que discorda dos métodos usados para as métricas e, consequentemente, não concorda com os dados revelados pelo AlgoTransparency. Sobre as acusações feitas por Chaslot, o YouTube preferiu não se pronunciar.

O Google ainda não oferece opções para os usuários controlarem as recomendações recebidas. É possível bloquear alguns canais, mas, mesmo assim, Chaslot diz que o algoritmo ainda pode continuar indicando vídeos semelhantes aos que a Inteligência Artificial interpreta como de interesse. O especialista defende que existe uma única solução a curto prazo: excluir a função.

Já a longo prazo, Chaslot pede mais transparência por parte das empresas e também que os usuários tenham mais controle sobre aquilo que consomem. Enquanto isso, para evitar ser impactado por conteúdos indesejados, o especialista conta que usa uma extensão do Chrome chamada Nudge, que remove recursos online que podem ser considerados viciantes, como o feed de notícias do Facebook e as recomendações do YouTube.

AlgoTransparency

Segundo Chaslot, os algoritmos do YouTube são responsáveis por mais de 700 milhões de horas de tempo de exibição de vídeos todos os dias e, mesmo as pessoas que os constroem, não compreendem 100% seu funcionamento. O objetivo do AlgoTransparency é entender quais informações a plataforma está repassando para seus usuários.

Em seu site, Chaslot conta que o projeto usa programas com várias etapas para analisar vídeos recomendados pelo YouTube todos os dias. O primeiro passo consiste em uma lista, disponível para consulta online, com mais de mil canais dos Estados Unidos. Este número vai aumentando conforme a pesquisa evolui. Todos os vídeos recomendados do último conteúdo

... publicado por cada um desses canais são reunidos. Em seguida, é feita uma comparação para saber quais canais foram os mais indicados pela plataforma.

No site, o usuário pode filtrar por palavra-chave para saber quais vídeos foram sugeridos pela plataforma - bem como quantas vezes - naquele dia. Também é possível filtrar por data. Como o projeto ainda está em construção, a pesquisa é limitada e está voltada para Estados Unidos e França.

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