Com o atraso de duas décadas, Cuba finalmente chegou à era da Internet: em 2015 foram inauguradas dezenas de zonas de conexão WiFi nas principais cidades da ilha caribenha, permitindo à população acessar, pela primeira vez, a rede mundial a partir de seus próprios aparelhos (celulares, tablets e notebooks) – antes o acesso era feito somente em universidades e terminais públicos. A combinação dessa forma de acesso com uma queda no preço da conexão fizeram com que as zonas WiFi explodissem em popularidade e a Internet entrasse de vez no modo de vida do país.
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O TechTudo esteve na terra de Fidel, do mambo e do daiquiri para conferir o impacto dessa nova revolução na vida dos cubanos. Garantimos: daqui pra frente, nada será como antes.
Praças da Revolução
O Boulevard San Rafael é uma pequena praça no centro de Havana. No amanhecer, é um lugar calmo e vazio, com pouco trânsito de pessoas, salvo uma ou outra mãe com seu filho à caminho da escola. À medida que a manhã avança, outras figuras chegam: pessoas com celulares e até mesmo notebooks passam a ocupar os bancos da praça. Não só jovens, mas também adultos. Por vezes, famílias inteiras: pais, filhos, avós, crianças pequenas.
Esse movimento se intensifica com o passar do dia. À noite, o Boulevard está tomado por havaneiros com celulares e computadores, acessando a Internet em grupo. Aqui e ali circulam jovens vendendo "tarjetas", cartões com códigos que dão acesso a 60 minutos de conexão. Para se conectar à rede WiFi da praça, os usuários precisam comprar um desses cartões e inserir o código nos celulares. Cada "tarjeta" custa US$ 2 nas lojas conveniadas, mas no mercado negro da rua, após o horário comercial, elas são vendidas por US$ 3,00.
Três dólares é caro, para os padrões cubanos, mas já foi pior, bem pior. “(A conexão) começou com um preço extravagante, algo como US$ 8,50 a hora”, relata Victor Manuel Quintano, dono de uma oficina de smartphones em Vedado, Havana. “Depois baixaram para US$ 6, depois a US$ 4,50, e agora está a US$ 2,00″.
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O problema não era apenas o preço, mas também o próprio acesso à Internet, limitado a terminais públicos lotados e empresas estatais com conexão. Nos últimos anos, a conjunção de preços reduzidos, popularização dos smartphones e inauguração de zonas WiFi permitiu que 2015 fosse o ano da Internet em Cuba. Com a descentralização do acesso, muitos cubanos acessaram a rede mundial pela primeira vez. Por outro lado, ainda não dá para se conectar de casa.
Ao contrário de países como China, Turquia e Irã, não há censura governamental a redes sociais em Cuba, mas o acesso é dificultado pela lentidão da conexão. Por conta do bloqueio econômico imposto pelos EUA, há apenas um cabo de fibra ótica que leva Internet à ilha. O resultado é uma velocidade de conexão de Internet discada. YouTube, nem pensar.
Sentado na calçada da rua em frente ao Boulevard San Rafael, um cubano reclama da velocidade: “O preço baixou bastante, mas as conexões ainda são lentas. Estamos dez anos at
Ponto de fuga
A lentidão da conexão não é fator suficiente para frear a popularização da Internet em Cuba. Entre o início de 2015 e fevereiro de 2016 foram inauguradas 65 zonas WiFi em todo o país, sendo 18 delas na capital, Havana. Mais pontos serão instalados em 2016. E a população de usuários só cresce, especialmente entre os jovens.
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Na noite do Boulevard San Rafael, um grupo chama atenção: são mais de vinte pessoas com seus celulares, todas em volta de uma mesinha com um notebook. Mateo, o dono do computador, descobriu uma forma de distribuir o acesso de WiFi de uma única tarjeta para vários dispositivos ao mesmo tempo. Assim, ele compra um só cartão e revende a conexão para várias pessoas a um preço menor do que US$ 2,00. É algo totalmente ilegal, mas Mateo não se importa. “O governo não ia gostar nada disso aqui”, diz, com prazer.
Os clientes de Mateo são, na sua maioria, adolescentes que querem aproveitar o máximo da recém-descoberta Internet. Usam tênis Adidas e roupas de marcas americanas. E não desgrudam os olhos de seus smartphones. Não muito diferentes dos jovens que moram na Flórida, tão próxima dali. “Esses aqui chegam na praça junto comigo e só saem quando eu vou embora”, conta Mateo. “Vêm todos os dias. É um vício.”
Quando perguntado sobre o que esses jovens acessam nos seus smartphones, Mateo responde como se fosse óbvio: “Estão falando com parentes que saíram de Cuba. Combinando um jeito de dar o fora.”
Não importa o lugar do mundo: por onde a Internet passa, nada se mantém como antes.
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